Tagarela

Conheci muitos tagarelas em minha vida, alguns em questão, falavam tanto durante uma conversa, que um simples bate-papo, virava um monólogo. O problema nisso tudo é que, quem muito fala, pouco ouve.
A Bíblia conta a história de um tagarela chamado Pedro. Este apóstolo foi um dos grandes líderes da igreja, muito usado por Deus, que antes teve que passar por uma escola, que o ensinaria a ser mais humilde e menos falador. Ele era o verdadeiro ímpeto, teimoso, impulsivo e tagarela. Nem quando Cristo o avisou que o negaria três vezes, o tagarela quis ouvir. Jurou morrer ao lado de seu mestre, que nunca o abandonaria, coisa que sabemos que ele não fez (Mateus 26: 31-35). E antes que o galo cantasse três vezes, negou seu mestre sem titubear, mostrando que não passava de um grande falastrão (Mateus 26: 69-75).
Porém ao lermos esta narrativa através do texto de Mateus 26:74, percebemos que Pedro não só negou, mas também praguejou, falou palavras profanas, palavrões, tamanha a ira e indignação com aquelas pessoas que afirmavam que ele era um discípulo de Cristo (CHAMPLIM, 2014, PG. 705). E se buscarmos a palavra praguejar no grego (καταθεματίζω), significa:
“Invocar castigo divino se aquilo que se diz não é verdadeiro ou se não se cumpre o que foi prometido, ou amaldiçoar (LOUW, NIDA, 2013, PG. 395)”
O silêncio é ouro, como diz o ditado. Faz-nos refletir, prestar atenção no próximo e nos impede de afirmarmos quem nós não somos. Tem um ditado popular muito usado e muito pertinente para nossos dias:
“O peixe morre pela boca”
Pedro sentiu o gosto deste veneno, mas não só ele, nós às vezes sentimos este gosto também, quando falamos demais, e vendemos uma imagem que não é a nossa. Pedro, de um defensor de Jesus virou um covarde em poucas horas, mostrando que falar é fácil, agora fazer…
Tenho tentado aprender, ao longo da vida, a ficar de boca fechada. Às vezes escutar é bem mais produtivo. O problema é que o silêncio é impraticável nos dias de hoje, onde temos muitas informações, nossas opiniões e pontos de vista, e queremos expô-las a todo o custo a todos. Millôr Fernandes tem uma frase genial que explica bastante uma atitude que deveríamos cultivar sempre:
“Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando entender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos 40 anos de vida, aprender a ficar calado”
E isso é uma verdade, e combina com o texto de Tiago 3:2:
“Todos tropeçamos de muitas maneiras. Se alguém não tropeça no falar, tal homem é perfeito, sendo também capaz de dominar todo o seu corpo”
Este texto nos mostra a importância do autocontrole, e está aí algo que temos que tentar praticar dia a dia. Ouvir mais, pensar mais, e ser mais cordial para com o pensamento alheio é fundamental para que cresçamos como pessoa. Frear a língua é um desafio, mas é algo urgente, para que sigamos construindo pontes, firmando relacionamentos, e levando a palavra sem destruir caminhos. Pedro foi um dos maiores líderes da igreja, foi muito usado por Deus, e teve que aprender na marra, o que é falar menos, e de um covarde, passou a ser um dos principais líderes da igreja.
Saber à hora de falar, aprender a escutar o próximo, e entender o seu ponto de vista, mesmo sendo diferente do seu, é o primeiro passo para uma boa convivência. Deixar que o nosso exemplo de vida leve a mensagem de Cristo a todos, é a missão principal.
Que a nossa vida, fale mais que nossas palavras. Que o nosso exemplo, seja a verdadeira voz a ser ouvida. O resto é detalhes!
BIBLIOGRAFIA
Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje; Ed. Soc. Bíblica do Brasil ; 2005 ; São Paulo; SP
Bíblia Sagrada – Bíblia de Jerusalém; Editora Paulus, São Paulo, 2002
CHAMPLIM, RN. O Novo Testamento interpretado Versículo a Versículo, Editora Hagnos, SÃO PAULO, 2014
LOUW, Johannes, NIDA, Eugene, Léxico Grego-português do novo testamento, Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, 2013
LOPES, Hernandes Dias, Pedro, Pescador de Homens, Editora Hagnos, São Paulo, 2015
Bacharel em teologia pela Faculdade Teológica Betânia, pós-graduado em filosofia pela Universidade Cândido Mendes, músico, escritor, professor e autor no blog Teologia na Solitude.
A resposta branda desvia o furor,
mas a palavra dura suscita a ira.
Provérbios 15:1 |