Ecoteologia, igreja e os movimentos ambientais
A reflexão teológica e as concepções históricas do pensamento cristão estão constantemente passando por reflexões, transformações, reinterpretações e contextualizações da mensagem dos Evangelhos. Estas constantes reinvenções teológicas normalmente se estabelecem dentro de um contexto histórico-social, onde o pensamento e o conceito da vida em sociedade merecem uma interpretação cristã da realidade e que deve ser feita de maneira crítica e criteriosa, não necessariamente dogmática, mas dialeticamente cristã. É preciso compreender que a Igreja necessita de ações que atinjam estas pessoas, que voltem a perceber que aquilo que elas entendiam não encontrar mais na igreja está sendo recuperado. Um dos grandes problemas que o mundo vai enfrentar nos próximos anos é o problema ambiental. Se a Igreja não conseguir apresentar um diálogo com a sociedade sobre esta questão, através de uma cosmovisão cristã da criação, teremos possivelmente mais cristãos indo buscar estas respostas fora da igreja.
A crise ambiental pelo qual estamos começando a passar é antes de tudo um problema ético, com impactos diretos no modelo capitalista moderno, implicando em profundas alterações comportamentais, que pode mudar a forma de entendermos a realidade e claro sendo um problema humano, encontraremos reflexos no entendimento teológico da criação.
O problema Ecológico
Vivemos um momento muito importante com relação à questão ambiental nos anos 90 e começo de 2000, porém o debate e ações governamentais acabaram esfriando nos últimos anos. Tivemos avanços importantes, mas estes avanços não são perenes se não forem amparados por medidas de políticas públicas persistentes para que não haja regressão. Porém avaliando tanto a situação atual quanto a possibilidade bastante evidente de aprofundamento da crise ambiental é preciso pensar em uma mudança significativa na mentalidade produtivista/consumista que impulsiona o progresso como se está estabelecido atualmente, isto significa uma mudança na forma como toda a sociedade percebe a nossa forma de viver. O relatório Mudança Climática 2021 elaborado para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que a influência humana no aquecimento do planeta, está ocorrendo em um ritmo sem precedentes pelo menos nos últimos 2 mil anos. Com isso, as consequentes mudanças na temperatura e nos extremos climáticos afetam todas as regiões do mundo. Prevê-se que esses efeitos continuem em longo prazo, pelo menos no resto deste século, afetando ecossistemas dos mares e pessoas que dependem deles (Nações Unidas, 2021). O filósofo Hans Jonas alerta que nós temos uma responsabilidade para com as gerações futuras, isto é a responsabilidade para a manutenção de uma vida autêntica humana (JONAS, 2006). Desta forma, devemos garantir hoje, a possibilidade de vida humana digna futura. O paradigma de crescimento / progresso constante e progressivo nos moldes que pensamos hoje, é insustentável para a vida no planeta. Desta forma é necessária uma mudança de mentalidade com relação a ideia de progresso humano, que seja justa e sustentável.
Ecoteologia, uma teologia pública
O papel da teologia é de refletir através da razão alicerçada pela fé as questões inerentes à vida e espiritualidade humana. A ecoteologia realiza esta ação através da fé pensada no horizonte da consciência planetária, visando entender as implicações da ação humana e sua coerência do mandato divino visando a compreensão da responsabilidade humana pelo futuro da manutenção da vida humana e o respeito pela vida.
Hoje a humanidade já utiliza em torno de 20% a mais do que o planeta consegue recuperar, ou em outras palavras, estamos sim destruindo a nossa casa. Temos que entender que o modelo econômico atual (falo do capitalismo extremado) é danoso, não somente para o planeta terra, mas também para o indivíduo, o excesso de consumismo, a idolatria por bens de consumo, o alto grau de competitividade em que somos impelidos está destruindo as mais básicas estruturas de convívio social. Desta forma faz-se urgente uma mudança de paradigma, como afirma Boff,
“(…)Este fato suscita lenta e progressivamente um novo estado de consciência. Da consciência de etnia e de classe passamos a consciência de espécies homo sapiens e demens. Descobrimo-nos membros da grande família humana e membros da comunidade de vida, irmãos e irmãs, primos e primas de outros representantes da imensa biodiversidade, plantas e animais, que caracterizam a biosfera, aquela camada fina que cerca a Terra constituindo o sistema-vida. Certamente, é mais que uma pequena membrana de vida. É apenas a parte mais visível do próprio planeta Terra, entendido como superorganismo vivo, Mãe, Pachamama e Gaia.” (BOFF, 2005, p. 18)
Assim, faz-se necessário uma reavaliação do processo de produção e consumo, é preciso rever o processo ético da valorização social pelo consumo e capital, e isto não é apenas uma ação individual, mas da sociedade(LOWY, 2020).
Papel da Igreja e da Teologia
Cabe a igreja apontar para o problema ecológico, observando que ela também faz parte deste problema. Cabe a igreja exercer seu papel de profeta na sociedade, no sentido de apontar a crise ambiental como uma crise ética. Cabe a igreja exortar ao corpo que a constitui, uma mudança de “mentalidade” no sentido de entender a responsabilidade individual. Cabe a igreja usar a sua estrutura para apresentar soluções, seja de nível local ou mais amplo. Desta forma, a igreja através de uma construção teológica deve dialogar com a sociedade visando conduzir uma mudança de mentalidade. Para isso, é preciso a compreensão do papel do ser humano regenerado para o cuidado com a manutenção da vida no planeta, entendendo o seu papel na mordomia da criação.
Referências
BOFF, Leonardo; Virtudes para um outro mundo possível – Hospitalidade ; Editora Vozes; 2005; 1ª ed. Petrólis; RJ
JONAS, Hans. 2006. O Princípio Responsabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto/PUC-Rio, 2006.
LOWY, Michael. 2020. O que é ecossocialismo? São Paulo: Cortez, 2020.
MURIEL, Fernando A. Zapata e TRUJILLO, Marta Lucía Martinez. 2018. Ecoteología: aportes de la teología y de la religión en torno al problema ecológico que vive el mundo actual. 2018, Vol. 13, pp. 92-105.
NAÇÕES UNIDAS, Aquecimento global sem precedentes tem clara influência humana, diz ONU. 2021. Fonte: https://news.un.org/pt/story/2021/08/1759272. Acessado em: 03/10/2021
Mestre em Bioética pela PUCPR, pesquisando as implicações bioéticas da biotecnologia, possui ESPECIALIZAÇÃO em Psicoteologia e Bioética pela Faculdade Evangélica do Paraná – FEPAR e Teologia do Novo Testamento Aplicada pela Faculdade Teológica Batista do Paraná – FTBP e em Formação de Professores para EAD pelo Centro Universitário Uninter. Bacharel em Teologia pela Faculdade Evangélica do Paraná (2008) e graduação em Bacharel em Teologia – Seminário Teológico Betânia de Curitiba (2006). Membro do Conselho de Bioética do Hospital Pequeno Príncipe (Curitiba/Pr.) Atualmente é professor do Centro Universitário Uninter na graduação de Bacharelado em Teologia e na disciplina de Ética Aplicada à prática Pastoral na pós graduação em Aconselhamento Cristão e Capelania e da Faculdade Teológica Betânia (Graduação e Pós-Graduação). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Moral, atuando principalmente nos seguintes temas: ética, bioética, teologia contemporânea, espiritualidade, : cristianismo., teologia sistemática e ecologia. Criador e coordenador do Grupo de Estudos de Bioética & Teologia (FATEBE) Curitiba,Pr.
Que pena que o autor passou lonje do conceito paulino expressado em Romanos 8:19-21, onde diz que “A natureza aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados, pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação (natureza) será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. A origem da decadência ambiental não está no capitalismo (ou o autor glorifica o comunismo de Boff como sendo o ideal ambiental?), mas na inação dos filhos de Deus, estejam estes sob qualquer ideologia. Na década de 70 Francis Schaffer escreveu vários clássicos sobre a visão cristã da ecologia: “Pollution And The Death of Man”, “Death in the City” e a trilogia ou série “O Deus que intervén”. Esquece Boff. Ele não merece ser sequer citado, com suas ideologias ateistas-comunistas de exaltação ao miserável, desconsiderando que não raro, este está lá por opção…